terça-feira, 18 de agosto de 2009

E POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS…


Assim é!

Meteram-se alguns navegadores já com passado glorioso nestas coisas do mar, alguns apenas com o glorioso passado de ver o mar ao longe, em tarefa tamanha que apenas a determinação e o desespero os levou a manterem-se firmes no seu posto de estudante. E não foi cousa simples, esta de quererem ser Patrões de Alto Mar!

Largos meses de aprendizagem transformados em tormentos tamanhos, ora pelas horas que não batiam certas, ora pelas navegações de secretária que levaram a discussões de onde vinha o norte, ora mesmo o tentar ver estrelas ao meio-dia e o sol à meia-noite, assim se foram passando momentos de prazenteiro convívio alternados com outros de tremenda confusão.

Se, até atingir a maioridade imposta por lei e garantida com as anteriores obtenções de graduados em Patrão Local e de Costa, as coisas tinham sido atribuladas, nada fazia prever o que se avizinhava tomada a decisão de avançar para a cátedra em Patrão de Alto Mar!

Tudo começou num belo fim de tarde com a marinhagem pronta para lançar amarras e disposta a chegar a bom porto. Só que o que parecia fácil, cedo se tornou complicado.
Primeiro foram as contas! Pois, as contas. Habituados à tão genuína tabuada dos nove, logo se deram conta que para ir mais além haveria que entender logaritmos e outros que tais, pois a terrinha é esférica e nela está o nosso amado mar. Triângulos esféricos?!
Claro que o ensino nunca foi grande coisa cá pelo burgo, mas que raio, um triângulo é um triângulo, e se para decorarmos que tinha três ângulos e os respectivos lados, muitas reguadas se fizeram ouvir, agora vêm-nos com um esférico!? Começou a confusão e acima de tudo, a imaginação a trabalhar. Vá lá que as máquinas dos chinas deram uma boa ajuda, e as tabelas várias ali estavam para empurrar para o resultado final. Não foi fácil, mas com quadros e mais quadros, vídeos de alto gabarito e alguma sorte, lá se foi apanhando a coisa.

Mal refeitos da tormenta, já o que restava dos cérebros salgados foram inundados com esta coisa do tempo! Sim, do tempo pois! Não, não é se está de chuva ou se está sol. É que se antigamente nossos antepassados tinham a ampulheta, agora temos os cronómetros e os sinais horários com relógios atómicos, imaginem! Enquanto os neurónios davam voltas de fiel, eram apresentados os UTC, os Hmg, os Hfus, os Hcivil, os H´s todos e mais algum que alguns iam descobrindo na sua santa ignorância. Aqui foi o desastre total. Marinheiros menos avisados chegaram a alterar os seus relógios levando a tremendos sururús com as respectivas, pois o almoço sempre foi ao início da tarde e o jantar lá para mais tarde. Qual quê! “ Atão Maria, almoçamos por Hfus ou quando forem 1 UTC? Hem ?!”. A coisa pôs-se brava e diga-se, ainda hoje o tempo nunca mais foi o que era.

Mal sabiam os futuros alto marujos que o pior estava para vir, ou melhor, para acontecer. E aconteceu ao crepúsculo! Matutino e vespertino, assim mesmo. Se até aqui estrelas eram estrelas que serviam para os poetas embalarem as dores de alma, o sol para o pessoal ir a banhos e os planetas essas coisas que servem para levar os putos ao planetário, a partir de certo momento tudo se alterou! As estrelas, o sol e os outros planetas eram, nem mais nem menos do que rectas!! De altura, rezam os livros e a paciência do Cmdt. Botelho que várias vezes pensou recorrer a algum psiquiatra mais amigo. O desastre era iminente, embora as nuvens e o vento fossem de feição prevendo bonança em vez de tormenta forte. “ Mas que raio de recta é essa? Recta de altura?! Ora, ora, meu amigo.
Para mim, e foi a professora primária que o demonstrou, recta é aquela coisa que começa onde um homem quer e acaba sabe-se lá onde!”. Mas aos poucos, com a determinação que levou os grandes Pedros, Vascos e outros ilustres antepassados navegadores a terras que a terra desconhecia, também os pobres graduados em de costa lá se foram habituando à ideia que aquilo era mesmo assim. E olhando para estrelas que apenas apareciam no papel e para o sol já quando a lua ia alta, as rectas, ou o que delas restava, apareciam nos desenhos! Sim, que rectas como estas não é qualquer um que as tem!

Enfim, cabos e baixios foram passando, alguns com farolagem e balizagem da zona A, outros com os ditos mais para as bandas da zona Z, lá se passaram os ditos meses até à prova final. Bem, prova final mesmo final não é bem o termo, mais tipo exame obrigatório, que o final ainda está para vir, ou não fossem Patrões de Alto Mar.
Mas o certo, e conta a história que aqui testemunho, é que aos dias 25 e 26 de um Julho de 2009 apareceu um ilustre até então desconhecido Cmdt. Frade carregado com as excelsas provas de exame. E foi um ver se te avias, marinhagem, que para se obter a carta de condução em alto mar há que prestar provas…e que provas!
Se é verdade que alguns mais afoitos pensavam que as provas seriam de tintos e brancos, maduros ou verdes, pois estavam redondamente enganados. Numa coisa não se enganaram: quanto às cores! Sim, que não houve nenhum patrão de costa que por ali tenha estado que, apenas em várias longas horas, não tenha passado por todas as cores do tão apetecido liquido, inclusivé até de palhete! Reza a história até que um tal marujo de terra tão colorido andava com essas coisas de músicas do outro mundo que por pouco não almariou com tanta navegação de prova!

E se por mares nunca dantes navegados por estes que ali estiveram, ao mar há que ir e voltar pois afinal ainda não somos peixes, e a bom porto chegaram oito dos valorosos ex-patrões de costa e mais algum teria chegado, pois a arte e o engenho a tal obrigaria não fosse de uma vicissitude momentânea acometido.

Bem, o certo é que com todo o saber foram instituídos em Patrões de Alto Mar, distinção que premeia os valorosos e destemidos homens do mar (…alguns mais de meia praia..!), sendo a mais alta graduação para navegadores de embarcações de recreio que existe neste cantinho de Camões, e talvez em todo o mundo, direi eu sem saber muito bem o que digo!
Mas, e há sempre um mas, se as provas finais de exame foram a 25 e 26 de Julho, outra prova se apresentou aos ditos e acompanhantes, pois a 15 de Agosto, ainda a procissão ia no adro, já os recentes graduados em PAM´s se reuniam em afoita navegação de terra à vista de sardinhas, leitão, polvos e saladas, tintos, cervejas e outras guloseimas que, em indiscreta homenagem aos valorosos, permitiu a entrega dos diplomas garbosamente ganhos.
E não pensem que esta prova foi mais fácil! A atestá-lo ficaram várias dezenas de sardinhas que não conseguiram passar das caixas para o assador, assim como vários litros do dito cujo que em boa hora deram faces rosadas aos examinandos e examinandas presentes!

Assim esta foi mais uma das provas a que se sujeitaram os recentes Patrões de Alto Mar, na certeza de que muitas mais hão-de vir! Até porque navegar é preciso….!

Ao Cmdt. Botelho um bem haja pela sua intrépida paciência para aturar durante tanto tempo uns quantos que da matemática faziam uma cebola e do relógio um cuco, já para não falar das ilustres rectas meia curvas!

Ao Cmdt. Frade, que de ilustre desconhecido passou a forte amigo, tendo aqui em Sines sempre um porto de abrigo para lhe dar as boas vindas!

Ao Vítor Coelho, agora Patrão de Alto Mar e grande PdP (Patrão de Petiscos) que proporcionou a ultima das provas e é um exemplo, tal como outros, que só é PAM quem nasceu para isso!
Ao Eduardo Miguens, agora Patrão de Alto Mar, que com a sapiência informática permitiu que muitos vídeos de estudo chegassem aos tripulantes e obrasse um diploma de fazer inveja à Royal Academy of Marine Navigation!
Ao José Chainho, agora Patrão de Alto Mar, também um exemplo de determinação e bravura nas andanças e lides do mar e do estudo, para além das agruras da vida!
Ao Alves Fura, agora Patrão de Alto Mar, a quem milhares de kilómetros feitos em terra para assistir às aulas serão, por certo, perpetuados em estátua de sextante na mão a erguer em Alcácer do Sal, terra que um dia será história com seus feitos de marinhagem!
Ao João Morgado, agora Patrão de Alto Mar, que passou de velejador mais ou menos a velejador de alto gabarito, e que merecidamente ainda há-de ver uma estátua no IST com o seu indicador em riste apontando os mares do além!
Ao Miguel Machado, agora Patrão de Alto Mar, que intrépido e determinado, nunca abandonou as horas, mesmo nos piores momentos, e em breve se fará aos novos mares como comandante da sua canoa e tendo como patrão a sua Patroa também ela grande navegadora!
Ao Bulhão Pato, agora Patrão de Alto Mar, a quem o sextante sempre oleado marcará a posição correcta em qualquer longitude por onde a sua recente embarcação irá navegar, com a preciosa e indispensável ajuda da Patroa que a bordo a levará a bom porto!
Ao Manuel Branco, ainda não oficial mas já por mérito próprio Patrão de Alto Mar, a quem a poesia sempre acompanha dando alento aos que dele se abeiram e fazendo do “Poeta” um farol de bom amigo e companheiro!
E a todos os que nesta caminhada me deram o privilégio de ser companha e aqui não mencionei, com especial menção ao Cmdt. Carvalho, garboso Capitão do bacalhau que, tendo como tal sido um glorioso continuador das lides marítimas de meu avô Pata da frota de bacalhoeiros da Figueira da Foz em tempos dos inícios do sec. XX, é nos tempos de hoje também um exemplo de homem do mar!


Pois assim termino esta breve história alegro-marítima para que outros vindouros possam testemunhar o SER Patrão de Alto Mar, e os que já o são aqui se revejam e continuem a fazer parte desta companha alegre e unida pelo gosto e respeito a que o mar nos obriga!


Luís Patta, agora Patrão de Alto Mar!...(mais de terra do que do mar..pois ainda não sei trabalhar com o GPS!!).

domingo, 16 de agosto de 2009

A consagração dos Patrões e a Fé dos marujos





Em dia de procissão, os novos Patrões de Alto Mar realizaram almoço de confraternização no porto de pesca de sines. Leitão de javali assado na braza, sardinhas e salada de polvo regados com bom tinto. Depois, a entrega dos diplomas aos Patrões. Agradecimentos ao Patrão Vitor Coelho pela excelente organização e logistica.

Pena foi que o Patrão Bulhão Pato e os Cmtes. Carvalho e Frade não pudessem comparecer. Não faltarão oportunidades e já se fala em sardinhada por ocasião da entrega das cartas que estão a ultimar no IPTM...

Depois do almoço, embarcamos para acompanhar a procissão em honra de Nª Sra. das Salvas.

Ficam as fotos para recordar os belos momentos passados no nosso habitat!





PM